

De repente, estas pessoas descobrem a capacidade de modificarem a si mesmos e a própria sociedade, pelo fato de terem o que dizer como traço de identidade de um grupo estigmatizado. Ao venderem o jornal, não estão pedindo esmolas ou a caridade das pessoas; ao contrário, estão anunciando, como antigos hermenêuticas do oráculo, uma nova representação de mundo, significando-se como sujeitos na palavra dos seus textos ou nas imagens produzidas pelo jornal: Aurora da Rua.
Um morador de rua não tem renda, por isso é desqulificado como um ser improdutivo pela sociedade capitalista. O vendedor do jornal passa a ter uma renda, mesmo que seja pequena, logo significa cidadania ("Como vendedor.posso comprar as coisas com meu suor"). Os depoimentos são muitos (edição nº 7, abril/maio 2007), revelando uma imagem de si mesmo positiva.
Veja como o vendedor se apresenta: boné, casaco azul com camiseta branca, crachá no peito e os jornais na mão. Esta indumentária possui significados que ultrapassam a leitura imediata dos ícones, pois a roupa, como o corpo representam uma nova postura perante o outro.
As palavras: "autoestima", "resgate", "Compro e me alimento com as coisas que quero", aliadas às imagens dos vendedores são signos geradores de significados que, talvez, não sensibilizem as pessoas que desconhecem a realidade das ruas, sobretudo, na cidade de Salvador(Ba).
A curiosidade do pesquisar é identificar as formações discursivas que explicam estas representações sociais, pois o que pensam os moradores da comunidade da Trindade. Muito mais do que isto, é também explicar como ocorre o funcionamento discursivo na produção, na divulgação e na produção do jornal como uma forma de dar visibilidade àqueles que, na imaginação dos outros, são "homens invisíveis" (outsiders).
Espera-se que os resultados logo apareçam em forma de artigos, relatórios de natureza científica.
Muito legal o projeto. Estou ansiosa para conhecer logo a comunidade da Trindade!
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