quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Fanzine na escola

 O fanzine é qualquer publicação feita por um fã. A origem da pala-vra decorre da fusão de "fã" mais "magazine" (fanatic magazine). O termo se disseminou tanto que hoje engloba toda publicação impressa ou online de natureza amadora, sem a intenção de lucro. Não é uma revista alternativa, pois não contém conteúdo original.
 Segundo GUIMARÃES (1979), hoje " os fanzine trazem textos diversos, histórias em quadrinhos, reprodução de HDs antigas, poesias, divulgação de bandas independentes, contos, colagens, experimentações gráficas. Normalmente, são o resultado da iniciativa e esforço de pessoas que se propoem z veicular produções artísticas ou informações sobre elas, que possam ser reproduzidas e enviadas a outras pessoas, fora das estruturas comerciais de produção cultural"
A diferença entre a revista comercial e o fanzine é que a primeira é feita em função do leitor, enquanto  a segunda defende interesse do(s) editor(es). Aquela se vincula a um mercado do qual depende para sobreviver; esta, ao contrário, tem independência para publicar o que quiser.Outra característica é que o fanzine está intimamente ligado à atividade cultural, à sua divulgação e ao prazer de se estar envolvido nela. Os fanzines podem ser de música, de poesia, de cinema, de literatura, etc.
Observa-se  agora o e-zine, isto é, um fanzine eletrônico com as mesmas preocupações do impresso. Para isso, é preciso dedicação, iniciativa e concentração de um grupo de pessoas que tenham como objetivo divulgar informações sobre produção artística, educacional ou cultural. pode-se criar um fanzine e ume-zine, no formato de blog, para dar mais sustentação e abrangência ao projeto.
Na escola, em especial em Língua Portuguesa, o uso do fanzine é uma ferramenta extraordinária, visando à produção textual. Demonstra o caráter abrangente e variável da língua, torna os alunos mais críticos e criativos. Com organização, definição temática, objetivos tempo e o mínimo de recursos, segundo professor Andrezão, pode-se fazer o fanzine como instrumento de gestão e de construção do conhecimento na escola. Alguns passos são necessários para realizar o fanzine:
1- Escolher o nome ( cada sala terá o seu)
2- Definir o tema relacionado ao interesse do grupo
3- Definir as diferentes secções (editorial, poesia, notícias, informes, tirinhas, etc)
4- Planejar a distribuição gráfica dos textos (boneca)
5- Dividir as tarefas pelos grupos
6- Definir a formatação online (blog, flashes animator, etc)
7- Planejar o visual (fotos, desenhos, colagens, etc)
8- Como atingir o público alvo?
9- Onde hospedar a página ou o fanzine?
10- Todas as decisões têm que ser discutidas com o grupo.


sexta-feira, 15 de julho de 2011

Identidade, discurso e poder do morador de rua

  Nesta semana, saiu o resultado da seleção dos bolsistas do PIBIC-junior 2011/2012 (FAPESB/IFBA) para o projeto de pesquisa: "Identidade, discurso e poder: utopia do morador de rua". O objetivo é estudar como a comunidade da trindade (moradores de rua), na capital baiana, consegue resgatar a cidadania destas pessoas "invisíveis" no espaço urbano através da produção e da comercialização do jornal comunitário: "Aurora da Rua"
       Significa analisar os textos e as imagens e buscar nelas a imagem que eles fazem de si mesmos hoje e no passado, a imagem que fazem sobre os outros, a imagem que os outros fazem sobre eles, a imagem que os moradores de rua fazem sobre o próprio jornal. Busca -se encontrar, na materialidade dos textos, um discurso que legitima um dizer e uma prática social.     
        De repente, estas pessoas descobrem a capacidade de modificarem a si mesmos e a própria sociedade, pelo fato de terem o que dizer como traço de identidade de um grupo estigmatizado. Ao venderem o jornal, não estão pedindo esmolas ou a caridade das pessoas; ao contrário, estão anunciando, como antigos hermenêuticas do oráculo, uma nova representação de mundo, significando-se como sujeitos na palavra dos seus textos ou nas imagens produzidas pelo jornal: Aurora da Rua. 
     Um morador de rua não tem renda, por isso é desqulificado como um ser improdutivo pela sociedade capitalista. O vendedor do jornal passa a ter uma renda, mesmo que seja pequena, logo significa cidadania ("Como vendedor.posso comprar  as coisas com meu suor").   Os depoimentos são muitos (edição nº 7, abril/maio 2007), revelando uma imagem de si mesmo positiva.
       Veja como o vendedor se apresenta: boné, casaco azul com camiseta branca, crachá no peito e os jornais na mão. Esta indumentária possui significados que ultrapassam a leitura imediata dos ícones, pois a roupa, como o corpo representam uma nova postura perante o outro.
       As palavras: "autoestima", "resgate", "Compro e me alimento com as coisas que quero", aliadas às imagens dos vendedores são signos geradores de significados que, talvez, não sensibilizem as pessoas que desconhecem a realidade das ruas, sobretudo, na cidade de Salvador(Ba).
       A curiosidade do pesquisar é identificar as formações discursivas que explicam estas representações sociais, pois o que pensam os moradores da comunidade da Trindade. Muito mais do que isto, é também explicar como ocorre o funcionamento discursivo na produção, na divulgação e na produção do jornal como uma forma de dar visibilidade  àqueles que, na imaginação dos outros, são "homens invisíveis" (outsiders).
      Espera-se que os resultados logo apareçam em forma de artigos, relatórios de natureza científica.                         



sábado, 2 de julho de 2011

A leitura "Cartas a um jovem poeta" (Rilke)

     A leitura do livro: "Cartas  a um jovem poeta" de Rilke foi importante para se estudar o Arcadismo, porque o poeta alemão, ao orientar aquele jovem desconhecido, dá-lhe conselhos sobre diferentes temas como o ato de escrever, a solidão, o amor, sobretudo, a simplicidade e a serenidade que se encontram na natureza ("Se o senhor se ativer à natureza, ao que há de mais simples nela, às pequenas coisas que quase não vemos e que, de maneira imprevista, podem se tornar grandes e incomensuráveis; se o senhor tiver esse amor pelo ínfimo e procurar com toda simplicidade conquistar como um servidor a confiança do que parece pobre - então tudo se tornará mais fácil, pleno e de algum modo reconciliador para o senhor, talvez não no campo do entendimento, que fica para trás, espantado, mas em sua consciência"(p.43).
Como se estudava a "carta argumentativa", foi sugerida a produção textual de uma carta, em que o aluno devia recomendar e persuadir os pais a ler o texto de Rilke. Hoje trago um destas produções feitas por uma aluna. Posteriormente, os pais vão escrever também um carta para mim que contribuirá para a avaliação final do processo ensino/aprendizagem do seu filho. Observe, no texto, a polifonia, já que aparece a voz do aluno e a voz do Rilke, falando como se fosse um pai para o filho, um professor para o seu aluno.
                                                                         Salvador, 05 de junho de 2011
Minhã mãe,

   Estava lendo o livro: "As cartas de um jovem poeta" que aborda os mais diversos temas que mexem com o imaginário,de todos, principalmente, dos jovens. Durante todo o livro, Rilke aconselha um jovem escritor a confiar em si mesmo, não se deixando abater pelos obstáculos que a vida traz. As cartas trazem  mensagens de perseverança e de autoestima. Essa leitura combina contigo.
   Rilke sempre fala da solidão, que ela é importante para nos proporcionar momentos de criatividade. "O que é necessário é necessário é apenas o seguinte: solidão, uma grande solidão interior. Entrar em si mesmo e não encontrar ninguém durante horas, é preciso conseguir isso". Nesta parte me lembrei de ti, prque ele exalta um sentimento que até então é visto como algo ruim e faz com que identifiquemos o bom disso.
    Outro momento é quando o tema em questão é a profissão. Ele a considera essencial para o crescimento  intelectual e pessoal do indivíduo. " A profissão é dura e cheia de contradições que o afetam... O que o senhor precisa enfrentar agora como oficial, é algo que seria sentido em qualquer outra profissão, até mesmo caso, sem qualquer cargo, tivesse procurado sozinho um contato livre e independente com a sociedade, não seria poupado desse sentimento opressor". Recordei-me de seus conselhos em relação ao meu futuro, não concordando com a profissão que eu pretendo seguir: o jornalismo, por achar que não trará o devido retorno financeiro para mim, mas tu sabes que não me vejo fazendo uma outra coisa, a não ser na área de comunicação. E quanto me sinto nervosa, ansiosa, impotente quando faço algo que percebo não haver nenhuma identificação por minha parte, como é o caso do curso que estou fazendo. Conto os dias para acabar esse curso, p´restar vestibular e, finalmente, ingressar no curso de comunicação com bacherelado em jornalismo. Sei que, no fim, tu me entendes, pois sabes que quero apenas ser realizada em minha profissão.
      Em uma carta , Rilke fala da juventude: "O senhor é tão jovem, tem diante de si todo começo, e eu gostaria de lhe pedir da melhor maneira que posso, meu caro, para ter paciência em relação a tudo que não está resolvido em seu coração." Os conselhos dele se aproximam dos teus, falo que o jovem essencialmente não tem paciência, quer que as coisas aconteçam rápido e, na realidade, não é isso que ocorre. Como ariana que souuuu, já não tenho paciência alguma, a ansiedade me consome, aliado ao meu imediatismo, é difiícil aplicar teus conselhos para o cotidiano, não consigo ter essa ideia "romântica" que as coisas têm seu tempo. Acredito que tudo tem seu tempo certo, mas colheremos resultados mais rápidos à medida que os plantamos mais velozmente.
      Além de abordar  essas temáticas, o livro trata de muitos outros assuntos como a questão do amor e sua banalização: "..os velhos preconceitos e vaidades fez com que o homem deformasse e sobrecarregasse o amor"; fala sobre a ironia: "Não se deve dominar por ela, principalmente em momentos  sem criatividade"; a importância da natureza: "O indivíduo pode ecordar que toda a beleza dos animais e das plantas é uma forma tranquila de amor e anseio".
       Abordei a questão da solidão, da profissão e das incertezas dos jovens com mais profundidade, porque são os assuntos que mais dizem respeito aos meus anseios, também são os assuntos mais debatidos por mim e por ti, pois sou adolescente, trago grandes incertezas e tu sabes que existem coisas de que não gosto de falar.
      Espero, com sinceros votos, que tu também leias atentamente o livro não só como pedagoga que é, mas também exercendo teu papel de mãe, de cidadã, tirando lições do livro e aplicando-as no dia a dia, pois as temáticas e a forma de aconselhar de Rilke aproximam-se muito das tuas.
                                                   Atenciosamente
                                                               sua filha (HSM)





Aurora da Rua: comunidade da trindade

Vendedor do jornal "Aurora da Rua"
"Aurora da rua" é um jornal publicado por uma comunidade de moradores de rua, chamada "Comunidade da Trindade", situado na av. Jequitaia, 165, casa 6, Cep.; 40460, Salvador(Ba). E-mail:contato@auroradarua. org. br
    O jornal, como um ícone, tem um significado muito forte para o morador de rua, pois representa renda, coisa que não existe quando se vive na rua. O preço é vendido a R$1,00 em que 0,75 centavos pertencem ao vendedor e 0,25 centavos são destinados aos custos de produção.Assim, o jornal passa a ser instrumento de resgate da dignidade do morador de rua como um cidadão,porque ele não é um ser invisível no espaço urbano como normalmente a sociedade os considera. Está no mesmo nivel do "sino", outro signo, que congrega, que avisa o horário do almoço, da reza, da comunhão. Não existem sinos debaixo dos viadutos ou das marquises das avenidas centrais da cidade.
        O que mais chamou a atenção ao grupo de pesquisa do IFBA são os signos verbais ou não verbais,presentes em diferentes gêneros textuais do jornal em que se evidencia uma matriz ideológica que legitima o dizer e o fazer desta comunidade. A linha de pesquisa: "linguagem, representação e poder", através do PINA, do PIBIC-junior, começou a estudar como ocorre o funcionamento discursivo na materialidade dos textos,cujas representações revelam uma busca da cidadania como utopia do homem- morador de rua.
Há, por exemplo, um número dedicado ao amor dos moradores de rua. Quando se enamoram, não têm como oferecer ao outro saúde, segurança, beleza, dinheiro, a não ser o afeto, o companherismo. Isto significa que eles têm muito a ensinar a nós todos que temos tudo o que lhes falta, mas não temos o amor no coração 
    A leitura do jornal em sala de aula tem provocado a própria pedagogia do ensino tradicional, baseado num esforço de memorização de cálculos e de fórmulas, desconhecendo a questão humana e social dos excluídos. O problema não é do governo, mas de toda a sociedade da qual fazemos parte.   
                                                                                                    
 Veja o quadro ao lado que está na sala onde todos almoçam na Igreja da Trindade, local ocupado pelos moradores de rua, na cidade baixa. Representa duas formas diferentes de fazer as refeições nas duas classes sociais: os ricos e os pobres. A parte de cima é um banquete, com fartura de alimentos, peru assado, mesa enorme, distanciamento das pessoas. Possui significados múltiplos, observe o tom róseo na cenografia. Na parte de baixo, estão os excluídos em torno de um panelão em que se misturam homens, mulheres e animais. Por que o tom da cenografia é azul-celeste? Estão com fome, mas isto não significa que estão infelizes.











Aurora da Rua: utopia do morador de rua

Dia dos Namorados no Ifba

sala ornada com flores e velas acesas
       A turma 10831 (geologia) brilhou no dia dos namorados, pois os alunos souberam ser criativos: a sala estava recheada de petálas no chão, as meninas pintadas, velas acesas, bolas em forma de coração penduradas no texto.
       Além da leitura do cartão, muitos cantaram, dançaram para as suas namoradas. As meninas cantaram, oferecerama rosas aos namorados.Eles, em retribuição, produziram um belo videoclipe  com as imagens das meninas.
        No final, houve um congraçamento geral com frios e salgados,regados a refrigerantes. Foi uma atividade muito interessante, porque é muito difícil expressar os sentimentos, sobretudo, uma declaração de amor. Não é porque o Ifba seja uma escola de ensino profissionalizante, não se possa humanizar a relação alunos x alunos x professor. Como professor, fiquei orgulhoso do empenho da turma por fazer um trabalho original.Todos estão de parabéns!
                                                                        

                            Nas camisetas, estão os nomes dos namorados
                   Este trabalho significou bastante como atividade ensino/aprendizagem. A avaliação ´não é só cobrar quantidade de conhecimentos assimilados, mas sobretudo a criação de atitudes perante a vida e o outro como forma de o aluno se significar como sujeito neste mundo de competição e de individualismo.
                    Estamos pensando desenvolver atividades semelhantes nas outras unidades e convocar outros colegas que também queiram desenvolver este tipo de atividade para comprovar como a linguagem não é só instrumento de comunicação ou de manipulação, mas, sobretudo, de conscientização de que o aluno, como qualquer ser humano, tem que significar na sua realidade de sujeito no mundo, segundo o filósofo heidegger.




        

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Memória e o Poder da Palavra

Agora, por ocasião das festas de S.João, aqui no Nordeste, estive na cidade "Salinas das Margaridas" no recôncavo baiano, perto da Ilha de Itaparica. A paisagem da orla é linda: o mar tranquilo, tendo ao fundo o casario de Conceição das Salinas. Comecei a passear pelas suas ruas, ainda com as suas fogueiras recém-queimadas, as pessoas sorridentes ouvindo as músicas de forró, muita cerveja e o som dos traques.

De repente, entrei numa rua estreita que me levava a um terreno da prefeitura onde estavam estacionados os ônibus escolares. Numa rua transversal, avistei o cemitério da cidade, cujo portal estava mal cuidado, portão fechado, nenhuma pessoa trabalhando na área. Na parte de cima do portal, havia uma inscrição meio apagada, escrita em latim: "Hodie mihi, cras tibi", cuja tradução literal seria: "Hoje a mim, amanhã a ti" ou numa expressão mais informal: "Eu sou você amanhã".

O que me chamou a atenção foi a frase feita numa língua dita morta (latim) como forma de exprimir o pensamento dos mortos e enterrados naquele cemiterio.
Não se sabem exatamente quais as condições de produção daquele enunciado: imagina-se que foi feita há muito tempo, mas se desconhece o autor da frase, a verdadeira intenção do enunciado. Embora o tempo tenha passado, ali contém uma representação sobre a efemeridade da vida. Ninguém pode escapar da própria morte ( “ Eu sou você amanhã”).
O poder das palavras expressas naquela inscrição é importante devido à profusão de sentidos a depender do ângulo que se escolhe para pensar sobre o tema.  Por que a frase não foi construída em português? Talvez a expressão em latim, que também podia ser feita na língua ioruba ou indígena, queira trazer a voz do sagrado e, assim, resguardar o descanse em paz de todos aqueles que estão ali enterrados.
A frase, aparentemente inofensiva, se torna efusiva por dizer aquilo que ninguém quer saber. Ela significa a voz dos mortos que, ainda que envoltos no seu profundo silêncio, falam aos vivos a inevitabilidade da morte. Leva todos os viventes a uma reflexão sobre a existência.