Na produção textual, muitos alunos têm dificuldades de entender as diferenças entre um texto dissertativo-expositivo do texto dissertativo-argumentativo, sobretudo, devido às exigências do ENEM. Ambas as formas tentam convencer o leitor de um determinado ponto de vista, quer pode ser mostrar as vantagens de comprar um veículo ou defender uma posição ideológica como cotas para negros, escola sem doutrinação, liberdade sexual, etc. Veja algumas diferenças:
Texto expositivo
1. O objetivo é apenas informar sobre um
produto ou fatos da realidade
2. Apresenta fatos, estatísticas, testemu-
nhos autorizados para provar determi-
nado ponto de vista
3. É uma abordagem objetiva cujas afir-
mações se provam por si mesmas.
4. Fundamenta-se apenas na demonstra-
ção de dados, por isso usa muito o
raciocínio indutivo
Texto argumentativo
1. O objetivo é defender um ponto de vista ideológico
sobre a própria realidade.
2. Apresenta inferências como causas, consequências,
críticas, sugestões em relação a uma tese.
3. É uma abordagem subjetiva que envolve a
apresentação de prova
4. Constrói-se a partir de deduções, inferências próprias
do raciocínio dialético-dedutivo
Para demonstrar, concretamente, estas diferenças, vamos ler dois textos, o que requer atenção e foco na análise dos recursos linguísticos e lógicos desta produção textual.
TEXTO 1 - O RACISMO DISFARÇADO
Vira e mexe eu volto a falar de racismo por aqui. É uma decisão difícil de abordar esse tema por dois motivos: quero dar o mínimo de exposição a pessoas que cometem esse ato, visto que muitas têm ele como objetivo, e eu não sofro com o racismo diretamente.Fui alertado recentemente sobre o lugar de falsa e legitimidade. Eu, mestiço como a grande maioria neste país, nasci com a pele clara e não tenho a intenção de representar pessoas negras, nem poderia. Mas, como esse é o espaço que eu tenho, preferi, por diversas vezes, me posicionar para não corroborar com o que considero errado. E o faço mais uma vez.
Desta vez, por três situações que me incomodaram. Em ordem cronológica, começo por uma polêmica criada com roupa de Serena Willians. Em junho, após dar à luz à filha Alexis Olympia, a tenista usou um macacão todo preto no seu retorno a um Grand Slam, em Roland Garros. Serena disse que considerava a roupa de Wakanda, em referência ao filme Pantera Negra. Depois, a americana ainda explicou que o traje facilitava a circulação sanguínea e evitava novos coágulos, resquícios de complicações na sua gravidez.
Na sexta-feira passada, quase três meses após a competição, o diretor de Roland Garros, o francês Bernard Giudicelli, proibiu o uso do macacão e disse que "é preciso respeitar o jogo e o local". Não tem nada de desrespeitoso em um macacão preto, a meu ver. Mas estamos falando de uma atleta que convive com críticas relacionadas a seu corpo, especialmente as características de sua negritude, desde que despontou no esporte. Suas curvas, seus músculos e até a sua feminilidade são constantemente criticadas e comparados às suas oponentes brancas. Então, nesse cenário, ousar vestir uma roupa em referência a uma nação africana de super-heróis é uma afronta.
Já na terça passada (21), parte da torcida do Independiente imitou macacos em direção a santistas que estavam na arquibancada em Avellaneda, onde os dois times disputavam a primeira partida das oitavas de final da Copa Libertadores. A segunda aconteceu ontem, no Pacaembu.Mas, antes de chegar ao Brasil, o Rojo publicou em seu site orientações à sua torcida. "É um delito no Brasil assimilar uma pessoa a um animal", informou o clube, ignorando o que deveria ser comum em qualquer lugar. No final, quando rogaram encarecidamente para que se evitassem os gestos e palavras racistas, ficou claro a verdadeira preocupação. "O clube pode ser penalizado economicamente". Melhor seria o clube se posicionar contra o racismo, ameaçar punir torcedores que desviarem essa conduta ou, mesmo, punir com rigor aqueles que o fizeram antes.
Por último, um exemplo que aconteceu aqui. O zagueiro Lucas Ribeiro, do Vitória, que teve um bom desempenho na última partida contra o Atlético-MG, foi "recompensado" com ofensas em redes sociais. Dois perfis de torcedores do Leão postaram uma foto antiga de Lucas e o chamaram de ladrão. "Lucas Ribeiro roubava carteiras na Barra e agora rouba bolas na Série A, escreveu um deles. Confrotado, um dos administradores se justificou dizendo que também era negro. Só esqueceu, infelizmente, que o racismo está agarrado às questões socioeconômicas. Destacar símbolos de uma foto como óculos ou roupas comumente usados por meninos negros de periferia e relacionar isso com um criminoso é a mesma coisa que falar da cor da pele.
Nesses três casos temos o racismo disfarçado. E todos precisam estar atentos a esse artifício que, em tempos de vigilância, especialmente nas redes sociais, tem sido a arma daqueles que insistem em andar para trás. (Correio da Bahia, 29/08/2018, Caderno Esporte, p.34)
COMENTÁRIO
Na introdução, apresentou a sua tese "Racismo disfarçado" em relação à miscigenação racial brasileira. Ao invés de apresentar inferências como causas, consequências ou críticas do problema, preferiu apontar três exemplos de racismo: Serena Willians (2º e 3º parágrafos), o time Independiente fazendo menção a "macacos" (4º parágrafo) e o caso de Lucas Ribeiro do Vitória (5º parágrafo) a desenvolver raciocínio dedutivo. Estes parágrafos só contêm fatos que justificam o poscionamento do autor sobre o tema " Racismo disfarçado" no esporte. A conclusão confirma a tese.
TEXTO II - A Persistência do Racismo
No Brasil, desde
a colonização, há um processo de sincretismo, em que a cultura da nação sofre
influência africana, europeia e indígena. Entretanto, devido ao eurocentrismo –
grande valorização e hegemonia das tradições e das características do povo
europeu – e ao papel do português como colonizador há, até hoje, uma exaltação
de tudo que vem do branco e desprezo e preconceito pelo que é de origem negra,
tornando um país de fortes influências africanas, racista, que mesmo ciente de
tal flagelo, permanece excludente ao longo dos séculos.
Com o passado histórico brasileiro demarcado pela opressão étnica,
o racismo, gerador de violência, ódio e discórdia, tornou-se um fator cultural
de extrema prevalência no país e, por isso, deve ser urgentemente, combatido.
Segundo Nelson Mandela: “Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua
pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam
aprender, e se podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar”. A partir
dessa afirmação de um dos símbolos da luta contra a segregação de raças, há a
comprovação de que a grande questão do preconceito é que valores de aversão à
diversidade são doutrinados na sociedade e, para reverter a atual situação, é
necessária uma mudança educacional que promova a igualdade e a harmonia.
Em virtude dessa discriminação amplamente difundida, a sociedade
brasileira, em sua maioria, demonstra uma certa ojeriza pela produção cultural
negra e pela estética da etnia, o que é explícito e reforçado pela mídia. Nos
meios de comunicação de massa, como o cinema, a televisão e a internet, é
visível a falta de espaço para a produção de origem afrodescendente e a
ausência de papéis – principalmente de protagonistas – em filmes, séries e
novelas para atores negros. Contudo, quando existem personagens disponíveis,
são usados para a construção de estereótipos preconceituosos, a exemplo de
negros retratados como criminosos ou trabalhadores de subempregos.
Fica evidente a necessidade de ação para a mudança do
atual contexto de desigualdades entre raças, que continua assolando o país.
Portanto, o Ministério da Educação deve realizar a inserção de tópicos
fundamentais no currículo escolar para a formação cidadã, de modo a introduzir
o estudo da história dos povos africanos – essencial para o entendimento da
construção sincretista brasileira – e também deve ser discutido nas aulas de
Sociologia a importância do negro na sociedade e o seu legado cultural. Além
disso, o Ministério da Cultura deve usar de seus recursos para ampliar o
incentivo à produção artística afrodescendente, que por meio de discussões
inovadoras e personagens
diferenciados, promova a diversidade da cultura e a desconstrução da imagem estereotipada
que difama o negro (Por Ana Lourenço access_time 24 fev 2017, 15h06 - Publicado em 20 jul 2016, 21h39 )
C O M E N T Á R I O
O texto apresenta uma tese: "Persistência do racismo em relação ao sincretismo" na introdução. Como argumentos, usou-se a questão histórica (causa) para justificar o ódio no segundo parágrafo; no terceiro, apresentou uma consequência: ojeriza pela produção cultural negra . Na conclusão, sugere que o Estado adote duas medidas: modificar o currículo escolar e estimular as produções culturais negras. O que se critica aqui é o fato de colocar duas sugestões no mesmo parágrafo, quando o correto é desenvolver cada sugestão num parágrafo. O texto apresenta inferência, dedução, defendo um ponto de vista do autor.
EXERCÍCIOS
Identifique, nos textos abaixo, as ideias básicas de cada parágrafo, formatando o seu plano de texto. Em seguida, classifique-os como expositivo ou argumentativo
III Reencontro com o racismo
Muitas vezes, e de muitos modos, o Brasil mostrou o seu racismo. Um novo capítulo dessa prática foi recentemente escrito por alguns alunos da Faculdade de Direito da PUC-Rio que ofenderam colegas de outras instituições de ensino com injúrias racistas em encontro esportivo estadual. Esse episódio, de elevada gravidade, ganha destaque por demonstrar a distância do Direito e do ensino jurídico do cultivo da premissa básica da igualdade, da incongruência da prática esportiva com o racismo, e da importância das políticas de inclusão para a população negra
A igualdade é alicerce do estado de direito. Uma percepção deficiente de seu significado implica o exercício claudicante da cidadania, o funcionamento corrupto das instituições políticas e a anuência com práticas sociais discriminatórias. O Direito, nas democracias modernas, assume seu compromisso com a igualdade em suas distintas feições. O dever ético dos múltiplos profissionais envolvidos com a aplicação do Direito está radicado nessa ideia que deveria ser cultivada nas faculdades, onde os estudantes seriam provocados a ter uma visão crítica de sua sociedade e a promover a concretização dos direitos incluídos na Constituição. Estudantes de Direito, perpetuadores do discurso de ódio, denunciam a necessidade de uma revisão crítica sobre a missão do ensino jurídico no Brasil.
A reação à notícia é mais contundente porque ela se contrapõe aos melhores propósitos do esporte, espaço de respeito, disciplina e incentivo à cooperação. Os integrantes de uma mesma equipe concorrem unidos para a vitória porque o êxito do grupo é o êxito de todos. A discriminação racial entre atletas e a cogitação de que ela possa ser um argumento legítimo no confronto entre torcidas são um triste sintoma da falência da sociedade civil brasileira como um espaço de convivência guiada pela civilidade e pela solidariedade. Egoísmo e discórdia tornam improváveis as chances do nosso sucesso como nação.
Entretanto, a crueldade e a humilhação são as notas mais tristes desse fato. O racismo é presente e persistente na história. Em manifestações evidentes ou insidiosas, ele apenas busca pequenas frestas para revelar-se. Um dos seus principais subterfúgios é a demarcação de espaços implicitamente proibidos à participação da população negra. O ensino superior é um dos exemplos. As ofensas usadas pelos estudantes agressores ressaltavam que o acesso à educação superior — importante meio para ascensão social e econômica — não está aberto aos negros. Para esses estudantes, acostumados ao olhar de estranhamento, distância e repulsa, é desnecessária uma nova advertência sobre a árdua luta que enfrentam ao buscar romper barreiras erigidas para a realização de direitos que lhes foram historicamente negados.
A polêmica do episódio não deve apagar a sua gravidade. Além da apuração policial, exige-se uma firme reprovação da instituição de ensino aos agressores cujo envolvimento for provado nesse lamentável incidente. A nós, profissionais do Direito, cabe reiterar o dever ético de nossas atribuições. À sociedade brasileira, é feito um convite para que a reprovação a essas condutas seja um grito uníssono contra o preconceito.( https://oglobo.globo.com/opiniao/reencontro-com-racismo-22781205)
Plano de Texto
Introdução : ______________________ 1§
Desenvolvimento:
___________________________ 2§
__________________________ 3§
___________________________ 4§
Conclusão: _________________________ 5§
__________________________
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